sexta-feira, 14 de maio de 2010

PSICOLOGIA II

ESCOLHAS E DECISÕES.
... O que vai ser quando crescer ?

A escolha profissional começa muito cedo na vida de um jovem, ao redor dos 17 anos de idade. Nesta faixa etária o fator maturidade apresenta grande importância. Segundo Spaccaquerche ( 1999,p.10) “da mesma forma que há uma prontidão para a alfabetização, também existe uma prontidão para a escolha profissional “. Fatores tais como características de personalidade, expectativas, pressões dos grupos sociais e desenvolvimento emocional do jovem, são determinantes para o processo de escolha. O período da adolescência acarreta grandes mudanças psicológicas que determinam novas formas de comportamento e interferem na definição da carreira a ser seguida.

O processo de escolha requer muitas vezes abrir mão de sonhos ou fantasias ou, ainda, lutar para que os sonhos se realizem, enfrentando muitos e duros obstáculos. Segundo Spaccaquerche ( 1999, p.10) “ escolher pressupõe também conhecer, ter as informações necessárias
para a opção”. O processo de orientação profissional deve propor tarefas que incentivem o jovem à reflexão e aos questionamento, devendo ser um processo contínuo e não estático. Escolher uma profissão e exercer um trabalho faz parte da história do ser humano e de cada um de nós.

São vários os fatores que levem o aluno à escolha de um curso, dentre eles: características de personalidade, habilidades ( talentos que a pessoa tem, como facilidade para escrever, fazer cálculos ou tocar um instrumento ), interesses ( que se formam principalmente com base no meio social no qual se vive, através das influências dos amigos e da família e das informações dos meios de comunicação ). A escolha profissional está dentro do processo de desenvolvimento do ser humano, que ocorre durante toda a vida. Não somos seres acabados, mas em evolução. Nós nos transformamos através do nosso caminho, das nossas decisões em todos os momentos.

Ao considerarmos a importância de exercer atividades que nos realizem, nos motivem, nos impulsionem ao crescimento, devemos procurar escolher um curso ou uma carreira que esteja ligada aos nossos interesses e aptidões. Para tanto, precisamos nos conhecer e acreditar que podemos, realmente, ser agentes em nossos próprios processos de escolha e tomada de decisões. Devemos salientar a importância de se conhecer as profissões, os cursos universitários e técnicos, as principais características do mercado de trabalho e as mudanças que nele ocorrem em função da economia e do desenvolvimento do país.

As mudanças do cenário produtivo da cidade, a desindustrialização dos anos 90 e as novas tendências do segmento de prestação de serviços, as transformações que ocorrem por questões econômicas e processos como a globalização, são fatores que devem ser amplamente discutidos no processo de escolha profissional.

Sabemos que o desemprego fez com que os jovens buscassem, como fator primeiro em suas escolhas, as possibilidades oferecidas pelo mercado de trabalho, colocando em segundo plano a realização pessoal.
Vivendo em uma realidade em constante mudança, o jovem precisa estar sempre aberto a novas idéias e, não acompanhá-las, pode gerar sua exclusão profissional.

Os jovens estão em constante questionamento:- “ Como posso sobreviver no mercado de trabalho ? “ “Existe um lugar para mim ? “ “ O que devo fazer para vencer na vida ? “ “ O que fazer ? “

DUBAR, 1997 salienta a importância de uma construção pessoal e de estratégia que leve em conta as capacidades e a realização de desejos do jovem, considerando a realidade vivida, antes mesmo de se priorizar a escolha de uma profissão ou ocupação. A partir desses conceitos, o Instituto de Psicologia da USP propôs um novo modelo de orientação profissional baseado no conceito de consultas terapêuticas de WINNICOTT ( l984 ) : método de comunicação significativa, entre terapeuta e paciente, num tempo e espaço definidos, no qual o terapeuta procura fornecer um ambiente adequado que propicie que os problemas e conflitos venham à tona.

No primeiro encontro, durante um breve aquecimento no qual se estimulou a fala espontânea do grupo, observou-se um grande receio dos jovens pela escolha ou, em outras palavras, uma expectativa de que os psicólogos ensinassem a forma de escolher. ( LEHMAN, UVALDO & SILVA, 2006, p.88).

Procurando trabalhar com técnicas que favorecessem o espaço potencial de resgate de confiança, da capacidade de se colocar no futuro de forma criativa e espontânea, os psicólogos do Instituto de Psicologia da USP – Serviço de Orientação Profissional, puderam observar nos relatos dos jovens, que os medos e as fantasias eram comuns e poderiam ser compartilhadas. Com a realização de outros encontros observou-se que, após o término das atividades, os jovens sentiam-se menos angustiados e mais próximos um dos outros. A partir desse momento os jovens puderam perguntar sobre profissões de uma forma mais solta e descontraída, expressando as dúvidas que não podiam ser verbalizadas anteriormente ( LEHMAN, UVALDO&SILVA,2006, p.90-91).

Orientadores e orientandos, transitando entre a realidade subjetiva e a compartilhada, criaram um espaço potencial para o amadurecimento dos jovens, por meio de reconhecimento das suas dificuldades e necessidades no contexto da escolha. ( LEHMAN, UVALDO&SILVA. (2006, p.91).

A escolha vocacional e profissional configura-se como tema cada vez mais relevante no discurso dos adolescentes, dos jovens e dos adultos na sociedade contemporânea. O histórico da escolha vocacional, relatado por pessoas que se destacaram em diferentes áreas de atuação revelam que, independente do sucesso ou importância social da ocupação, alguns indivíduos mostram uma intrínseca ligação com aquilo que fazem. A qualidade dessa ligação, entre o indivíduo e a atividade que escolheu exercer, parece ser um diferencial na vida das pessoas.
( MOLINEIRO, 2007).

A família, a orígem e as inserções sociais, históricas e econômicas, são dados significativos, mas não definem a priori o lugar que o indivíduo ocupará no mundo e sua importância. Encontrar seu papel na coletividade e definir um senso de identidade, integração e pertencimento são tarefas que o adolescente e o jovem tem que enfrentar. Existe uma indagação sobre o papel específico que se escolheu nessa teia social e uma pressão para que esta resposta seja encontrada o mais cedo possível na modernidade alta ou tardia ou pós-modernidade, como é chamado pelos estudiosos da sociologia esse tempo em que vivemos. Os adolescentes e jovens buscam encontrar esta resposta o quanto antes, geralmente com o término do ensino médio, que ocorre aproximadamente entre os 17 e 20 anos. Efetuar essa escolha atende não somente indagações próprias, mas também às expectativas que vêm do mundo à sua volta: família, amigos, escola. MOLINEIRO (2007.p.12).

A definição vocacional tem sido muitas vezes acompanhada de uma grande dose de angústia e indecisão, justamente por tratar-se de uma escolha significativa mas precoce, que acontece simultânea à iniciação do adolescente na direção da autonomia e de fazer escolhas, junto aos demais ritos de passagem característicos dessa etapa única na experiência humana. Muitas vezes o adolescente percebe que sua escolha não foi feita conforme seus talentos e interesses, tendo sido influenciada por questões econômicas e sociais, e acaba desistindo da sua opção.

O trabalho de orientação vocacional deve ser feito não somente em relação à primeira escolha, mas também na constatação da incompatibilidade e insatisfação com esse passo inicial do processo. Os dias atuais estão permeados por mudanças muito rápidas e por intensas transformações no mundo do trabalho, fazendo com que novas funções sejam criadas e outras deixem de existir. Acompanhar essas mudanças e compreendê-las torna-se de vital importância no processo de escolha profissional. A escolha vocacional deve englobar a perspectiva individual e o processo de identidade do adolescente, a perspectiva social e de cidadania.

(...) Entende-se, nesta perspectiva, a escolha vocacional como a adoção de um caminho para onde a vida será orientada, com o olhar, a intenção, a vontade e a ação. Essa escolha principia com a escuta pelo indivíduo da sua voz interior, reveladora de seus talentos, habilidades, aptidões, suas características mais peculiares, que lhe conferem singularidade. A busca do auto-conhecimento no trabalho vocacional precede a escolha da profissão e do roteiro a ser seguido para realizá-la. Não se trata apenas de uma escolha, mas do ajuste de instrumentos e da direção a seguir, pois muitas outras opções vocacionais e profissionais serão vividas na trajetória de uma vida, que inclui evolução e transformações. As mudanças são inevitáveis nesse tempo em que acontecem tão velozmente, afetando todas as áreas da experiência humana. Mas o indivíduo pode manter o senso de estar no caminho, estar em conformidade com sua essência, com o seu Self e com o seu chamado.
Molineiro (2007.p.14)

Maria Beatriz Arouche Ramos
Psicóloga – Psicoterapeuta
CRP 12865- 6ª. Região – SP
Executivonota10@gmail.com
Formação em Psicologia pela UNIP/SP.
Pós-graduada em Psicologia Analítica
( lato sensu ) pela Universidade São Marcos
e em Psicologia Analítica pela UNISA
Membro atuante em grupos de estudos
nas áreas de Psicologia.

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